sábado, 13 de fevereiro de 2010

Siga seu coração e seja feliz!... Se puder



Vou contar essa história em duas partes. Não quero chamar de testemunho, mas de uma pequena reflexão sobre as escolhas que constantemente fazemos. Alguns escolhem racionalmente, outros combinam razão e sensibilidade. Porém, ainda existem aqueles que seguem o coração e...

Desde a minha infância segui o meu coração. Detestava seguir regras. Mesmo sabendo que elas estavam certas e que o preço da transgressão iria doer bastante em minhas pernas. Apanhava seis meses por ano. Se tivesse apanhado ontem, hoje me comportava. Mas amanhã já me sentia com o crédito de fazer mais uma peripécia. Ainda hoje não sei se eu era danado ou apenas desafiava o que estava posto. A verdade é que sinto muita saudade daquele tempo.

Antes de ir buscar o leite, era preciso varrer a casa. Minha mãe era costureira, meu pai um simples vigilante. O salário não dava para ter uma empregada e eu tinha que ajudar nos serviços da casa. Eu costumava quebrar as regras nos "mandados". Por volta das oito da manhã, eu deixava a vasilha com dona Eliete, uma leiteira baixinha e gorda, dizendo-lhe que voltava já. Balela!!! Eu simplesmente sumia! Quando não ia jogar bola, acompanhava os garotos mais velhos que iam caçar de "baladeira", tomar banho no rio ou pedir emprestado as bananas dos sítios da vizinhança. Chegava as vezes seis horas da noite. Uma surra, é claro! Depois o castigo. Mas tinha que ter a "pisa".

Na adolescência, por volta de 1985, assistia com entusiamo o Super Special com Serginho Café, depois com atual apresentador do Pânico na TV. Conheci o U2, A-ha, Pink Floyd, Menudo, Legião Urbana, Titãs, Paralamas, Barão Vermelhos entre outros. Foi uma época tranquila até eu me apaixonar. Comecei a trabalhar aos 13 anos numa gráfica, picotando passagens, mas como sou curioso, aprendi rápido e passei a ocupar a função de compositor tipográfico. Estudava a noite. Não tinha tempo para namorar. Qual a solução? Quebrar a regra, seguir o coração. Deixei a escola! Perdi o primeiro ano do ensino médio e três meses depois, a namorada. Esta, a principal causa de ter deixado a escola.

Fui a um retiro espiritual e lá comecei a namorar com uma moça três anos mais velha. Ela morava na mesma rua da minha ex. Queria lhe fazer ciúme. Eu era virgem com 16 anos. Meus pais preocupados me alertaram sobre gravidez. Eu não segui a regra deles. Segui a dela: "transar sem camisinha 14 dias contados a partir do primeiro dia da menstruação"! Dane-se a razão! Não me pergunte nada. Eu tenho uma filha linda com 22 anos e dela um netinho com dois anos. Copiou o pai. Pois é, fui pai com 17 anos e... tudo tem um preço. Antes de completar dois anos me separei.

Lutei para mudar a inconsequente "quebra de regra" através do estudo. Em 1989 fiz vestibular para Engenharia Elétrica em Campina Grande e fui reprovado. Fui aproveitado com a segunda opção em Cajazeiras-PB no curso de Ciências. Lá eu conheci a pessoa que se tornou, depois de 3 anos de namoro, a mãe dos meus outros dois belos filhos: minha cantora e um apaixonado por informação. Depois de um ano fui aprovado para cursar Engenharia Civil em Campina Grande. Ela ficou cursando Ciências e eu pegando carona no Serrotão a cada 15 dias quando queria vê-la. Depois de 2 anos, quebrei novamente a regra, deixei o curso e voltei para Ciências, ou melhor, para a namorada.
Esta foi uma fase próspera. Dávamos aula nos colégios e cursinhos da região. Eu física, ela biologia. Construímos um lar e traçamos vários projetos.

No final de 1994, fomos aprovados num concurso público. Eu na capital paraibana, ela no interior. Depois de um ano, fiz o que ninguém faria: uma permuta. Segui meu coração. Saí da capital e vim para o interior. Essa foi uma quebra de regra com meus estudos. Tinha feito o concurso para o sustento num mestrado em física. Vivíamos relativamente bem. Tivemos alguns problemas, mas todo casal tem. Poderia tê-los vencidos se não tivesse queimado a minha adolescência e ouvido os conselhos dos meus pais.

Numa noite quente de setembro de 2000, encontro num bar uma menina 10 anos mais jovem que eu. Nela eu vi a possibilidade de reencontrar o espírito jovem de adolescente. Eu precisava de uma companheira que violasse as regras comigo. Uma companheira para ir a todos os bares e estar comigo nos horários mais absurdos, transgredindo as regras. Fui me envolvendo clandestinamente com ela até que um dia confessei tudo para minha esposa. O mundo caiu, mas mesmo assim, ela se esforçou para que tudo não terminasse. Várias pessoas vieram me pedir para que eu analisasse tudo o que estava deixando. Segui meu coração. Saí de casa e fui viver a suposta adolescência no início de 2001. Essa foi a mais drásticas de todas as transgressões. Eu e minha concubina fizemos muita gente sofrer. Ela penalizada pela família, eu estigmatizado pela sociedade, minha família violentada pela minha nova escolha. Tive muitos remorsos e conflitos por tudo isso, mas tinha seguido meu coração... e o coração nunca erra!

Convivi 9 anos com ela. Uma vida extremamente senoidal, entre altos e baixos, idas e vindas, até que em setembro de 2009, decidi ou decidimos por um fim. Eu sou muito difícil, reconheço. Mas também tenho uma alma boa. Mas esta história irei contar na segunda parte, onde farei uma abordagem dos últimos anos e meses, das pessoas que me decepcionaram, das alegrias, do amor, do medo, da dúvida, do suicídio, da esperança, do encontro com Deus... Aguardem!

Aqui peço licença para interromper a primeira parte e dela extrair o objeto para uma reflexão.

Se tivesse que acertar tudo, caminhar em linha reta, comer arroz com feijão todo dia... Seguir a receita de bolo elaborada pelos nossos avós... Certamente não teríamos experimentado a vida e suas possibilidades.
A vida é uma grande experiência. Um grande restaurante de relações com um enorme cardápio. O menu versa sobre uma variedade infinita de razões e emoções. Alguns comem pouco, outros vivem sempre famintos. Ora usamos a emoção para escolher a razão conveniente, qual a melhor entrada, acompanhamento, sobremesa, bebida, etc. Ora usamos a razão para fazer o processo inverso.
Nessa escolha, sempre existiu pratos que ainda não degustamos. A escolha errada pode causar mal-estar, diarréia, vômito e até botulismo em nossa alma, em nosso espírito e nas relações que contraímos.
Todos os dias escolhemos a nossa alimentação. Um dia nosso corpo responderá sobre o que ingerimos em nossa vida. Corpo, alma e relações se alimentam.
O corpo tem um coração: um músculo bombeando sangue ininterruptamente. O amor, o ódio, a alegria, a tristeza, a consciência representam o coração da alma. Os contratos, acordos, o casamento, a amizade leal, a cumplicidade representam o coração das relações.
Seguir o coração é delicado. A impulsividade de uma decisão pode afetar aos vários tipos de corações. Alguém pode enfartar, pode ficar triste ou com ódio, destruir um casamento...
Peço perdão a Deus e a todos que magoei por ter seguido o meu coração. Um coração egoísta, frio, que só serviu para atender meus impulsos. Nunca coloquei Deus em minha escolhas. Agi por conta própria...

Sempre imaginei que "o dogma é uma repetição que arranca o prefixo da inverdade". É até bonito esse papo filosófico, mas a vida e as relações afetivas são mais importantes que um discurso de botequim. As vezes precisamos seguir regras com as quais discordamos em sua essência. O pior não é a pena que a regra encerra, mas o efeito borboleta gerado a partir dela. Se fizer A, terá um pena B. Até aí tudo bem! Mas B pode alterar C, que nega D, que interfere em E, e este, corrompe F que engana G, que vicia H que convence I a matar J.

Por tudo isso, não siga o seu coração. Não o conduza se ele for um veículo. Peça a Deus para dirigir. Se tiver pernas, peça a Deus para ser o caminho. Se tiver asas, peça a Deus para ser o ar.
Quem quiser me condenar por ter seguido meu coração, faça-o! Condene-me! Eu mereço. Mas não use seu coração para ser o juiz. Use-o colocando Deus para me sentenciar. Aquele que não o fizer, estará incorrendo no mesmo erro que cometi.

2 comentários:

  1. Não há culpados, há caminhos, que nem sempre nos levam para onde desejamos. Hoje você reflete, em sua maneira de se comportar, o resultado de suas ações, sejam elas boas ou ruins. O bem e o mal estão mais próximos do que imaginamos. E sempre existe um segunda chance. Sempre! E, eu amo o que escreve, xeroca sua alma. Digitaliza seus nobres (ou pobres) sentimentos. Parabéns João!

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  2. Sua história é emocionante. Li como se estivesse lendo um conto. Poucas pessoas abrem o "baú da vida" e revelam seus altos e baixos. Seria muito fácil dizer apenas "sou formado em tal, participo de bancas examinadoras e sou bem-sucedido". Você conseguiu fazer uma análise ao mesmo tempo sincera e imparcial de sua vida, longa vida, vale frisar. Parabéns! Está adicionado aos meus blogs favoritos.

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