sexta-feira, 12 de março de 2010

Tum-tum, tum-tum, tum-tum...



Tu és o dono da verdade. Só em ti ela se revela. O que te faz ser assim? De onde viestes? Porque não tira férias e descansa um pouco? Muita gente apressada ou estressada iria adorar. A tua crueldade as vezes me assusta, mas também carregas consigo o elixir da conformação.
Ontem eu estava numa fila e percebi que estavas ali perturbando aquelas pessoas inquietas. Pessoas que te olham e não sabem da tua essência. Tu me ensinastes coisas maravilhosas exatamente nestes locais. Paciência. Equilíbrio. Aprendi que cada pedacinho teu faz parte da lição da vida. Esperar nada mais é que absorver a tua sabedoria.
De nada vai adiantar fugir de ti. Tu estás em toda parte. Alguns te odeiam, outras nem percebem a tua presença ou que tu passastes. Quando estamos diante da pessoa amada, ignoramos-te. Quando distantes, odiamos-te. Faz parte desse jogo da vida, ninguém é perfeito.
Quando viajo, quando adoeço, quando fujo, quando esqueço, percebo a tua presença mais intensa. Mergulho em mim mesmo e vejo que não passastes por alguns locais de minha alma. Porém, tatuastes em minha história momentos fantásticos, inquietantes e alguns perturbadores. Tum-tum, tum-tum, tum-tum... Continuas vivo, bombeando o universo, alterando a vida, mapeando os sonhos, acalmando as tragédias, corroborando a espera.
Só tu és capaz de entender o processo de transformação da vida em morte. Viver é morrer em ti. Morrer é não perceber a tua essência. Quando olho para minhas rugas percebo em ti a criança que fui. Quando questionava em ti a criança que era, conjecturava as possibilidades dos meus cabelos brancos, do meu andar cansado, do meu olhar profundo, dos sonhos não realizados...
Não podemos discutir a tua uniformidade, o teu nascimento, o teu fim. Apenas imagino que não és contínuo. Tu és discreto: tique-taque, tique-taque, tique-taque...
Tu és o senhor das horas, o senhor da vida, o senhor da cura, o senhor da verdade, o senhor da história...
Tu és o tempo.