quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Os olhos não enxergam suas próprias lágrimas

Minha matemática, minha física, minha lógica, minha filosofia, meu “direito torto”, meus gráficos, meu cantinho, minha dose, meu sangue, meu pedaço de verdade... Para onde vocês foram? Sempre fui além do que precisava buscando entender o meu tempo, meu espaço, meu deus, meu cosmo. O olhar que lanço para o céu a noite é muito mais que um admirar-se com o brilho das estrelas e da lua. Ele vai pra outras dimensões, sai da via láctea e viaja pelo universo procurando uma compreensão de quão pequenos somos, perdido nesta poeira cósmica, nesta escuridão infinita. Queria saber se estamos ligados de alguma forma com outros mundos, se existem outras formas de vida inteligente, se toda a matéria que é engolida num buraco negro cria uma singularidade, gerando outro espaço-tempo, outro universo, carregando um pouco de nós. Mas apesar desse olhar, dessa compreensão, sinto-me vazio, sem esperanças, sem vida, sem alegria... Não quero sair, não quero entrar, não quero lembrar e nem dizer nada... Que mundinho pequeno que habito!... Mas é meu. O único que tenho.
O telefone toca e um convite é feito pra algo que não queria fazer. Não naquele momento! Mostro-me a fundura do poço que estou e não quero escada, corda ou mão para ser resgatado. Quero ficar ali mais um pouco. Depois de um concordar sem palavras, vou ao banheiro e molho minha cabeça com um leve desejo de ânimo. Acorda! Pede ajuda!...
É uma noite linda, mas só vejo luzes e blocos de concreto amontoados formando essa selva urbana. Olho a perimetral, avenida que faz essa pequena cidade parecer uma capital, vejo carros indo e vindo com destino apenas para o fundo de minha retina. Sigo aquelas luzes imponentes e vou buscar o meu ouvido, minha mente e meu consolo. Carrego-a por toda a cidade, observando a felicidade alheia em cada esquina, cada bar, cada calçada...
Perco-me um pouco nessas faces buscando enxergar minha alma, mas nada importa se eu não encontrá-la.
Remonto toda a falta de expectativa em mim mesmo querendo receber um empurrão de cima do meu penhasco emocional. Queria ouvir as mais sábias palavras... Eis que o milagre acontece!
Não com palavras. Mas com um olhar carregado de lágrimas dividindo a dor que me consumia. Ali eu senti o quanto somos ingratos e pequenos diante de Deus. Ele estava ali do meu lado através dela, minha doce esperança, vestida de mulher, com coração de criança, com gestos simples e sinceros arrancando a estaca que me atravessava o peito. Foi exatamente no brilho daquela lágrima que entendi a grandeza do cosmo, o universo além de mim... A falta de esperança não estava em mim, mas no meu egoísmo, na presença espiritual que abandonei, na falta de compreensão para com o outro que me completa...
Ali eu tinha entendido o tamanho do meu mundo, há quantos anos-luz estava de mim mesmo.
Isso é perturbador. Essa simples gota salgada quando dividida com sabedoria e compaixão, transforma chama de velas em quasares de brilho transcendental, pequenos passos em viagens intergalácticas dentro de sua consciência e no seu eu...
Busquei através de quase tudo o que vivi entender um pouco do mistério que é a vida, a felicidade, o cosmo... Mas nada havia encontrado.
Foi só então, quando dividi meu choro contido, aí sim, vi em cada uma daquelas lágrimas o reflexo daquilo que eu buscava.

1 comentário:

  1. Nossa, estou anciosa para sentir o êxtase produzido por um pouco de entendimento, mesmo que seja por alguns segundos. Pois minha vida é uma farra de perguntas que me deixam cada dia mais embriagada de dúvidas. São tantas questões que chego, como você chegou, ao limite de não ter vontade de fazer nada.Queria poder entender qualquer coisa, por mínima que fosse. Que merda!!!

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