quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Meu companheiro



Tu sempre me protege da frieza solitária que se estampa nas paredes da minha alma.
Sempre busco o teu refresco quando minhas idéias estão turvas, quando as portas se fecham, quando o remorso me instala e a lâmina de barbear foge do meu rosto querendo me acertar os pulsos.
Tu sabes das minhas ressacas, escutas o grito de negação daquilo que bebi, mas que ontem tinha me aliviado de várias dores. Tu as vê nas marcas de expressão que o tempo e a noite esculpiram no meu rosto banido.
Finco as minhas mãos no teu assento, lembrando ombros, e vejo os meus ébrios olhos a tremular, espelhado naquela água de esmeraldas biliar.
Ali questiono se tudo valeu a pena... Passo a mão na minha face, tento limpar o suor daquele esforço intra-orgânico: valeu, mas até quando?
Os livros são teus amigos, pois tudo o que aprendi neles, dividi um pouco contigo, visto que só lia em voz alta. Sentado em teu trono, incontáveis planos de vida ali eu fiz. Alguns realizei, outros destruí, mas um estou esperando...
Tu estavas comigo no trabalho, na casa dos meus pais, nos bares e restaurantes, nas rodoviárias e aeroportos... És sempre visto sem grande importância, mas todos sabem do teu valor quando as coisas apertam.
Por várias vezes via naquilo que te reveste formas lúdicas, frutos de minha imaginação, parecendo um diálogo visual de linhas e curvas abstratas...
Tu és quase uma igreja, um templo, um rio sagrado que limpa não só as sujeiras exteriores mas também as impurezas espirituais.
Tu já presenciastes não só as minhas orgias e volúpias amorosas, mas a de várias pessoas. Elas te adoram nessas horas. Tu assiste a tudo silenciosamente e depois faz a limpeza do produto oriundo do desejo carnal. Nesse momento, todos nós parecemos atores de filmes pornográficos e tu a lente que capta tudo. Quantos segredos já te contaram?... Milhões! Mas nunca revelastes nenhum.
Em locais públicos, existem aqueles imbecis que costumam te tatuar com palavrões e desenhos obscenos ridículos. Todos irão concordar: quando tu se arruma e fica perfumado, todos levam uma grande impressão do ambiente em que se encontras.
Você na minha casa é especial! Posso ficar com a porta aberta, pode sair cheiro ruim, não importa... Não gosto de você em nenhum outro lugar! Te acho estranho quando estás fora de minha casa, não me sinto a vontade contigo, acredite!
Poderia te chamar de Oráculo, pois oráculos são seres humanos que fazem predições ou oferecem inspirações baseados em uma conexão com os deuses. No mundo antigo, eram os locais que ganharam reputação por distribuir a sabedoria. Isso você sempre me proporcionou.
Vou entrar com um pedido de reconhecimento de união estável. Todas as outras pessoas te chamam de banheiro. Eu inverti esse "b", transformando num "p". Depois coloquei o "com", visto que sempre dividi parte da minha vida contigo. Agora juntando "com" + "p" + "anheiro", gerou: companheiro. Parece idiota, mas o banheiro foi sempre meu companheiro.

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