quinta-feira, 7 de julho de 2011

Sedimental?... O que é isso?



Não é o que você está pensando! Não é um coração duro, de pedra, de amargura, fechado...
Ao contrário. Meu coração sempre foi um grande tanque com paredes pulsantes, flexíveis e cheio de sentimentos. Alguns sólidos, grandes e leves, como o amor, a amizade, a sinceridade, a fidelidade... outros líquidos e transparentes, como a esperança, a gentileza, a alegria, o perdão, a atenção...
Também tinha partículas diminutas e pesadas, como o ódio, a mágoa, a raiva, a inveja, a impulsividade, a infidelidade...
O maior problema é a repulsividade elétrica dessas partículas com os sólidos grandes. Dada a baixa densidade e por estarem na superfície do líquido, uma partícula pode repelir um ou mais sólidos do tanque rapidamente se o líquido estiver em repouso ou em pequena quantidade. Além disso, o aumento das partículas pequenas em detrimento aos grande sólidos enrijecem as paredes do tanque, perdendo sua flexibilidade, diminuindo sua função pulsante.
O que fazer então?
(Perambulando pelas dependências do curso de Irrigação e Drenagem comecei a observar uma caixa dágua enchendo e...)
Quase sem querer descobri uma fantástica solução para que essas partículas fossem tratadas e não comprometessem a integridade do tanque. Quanto mais líquido jorrando no tanque, mais diluídas tornavam-se as pequenas partículas, menos transparente ficava o líquido. Isso era óbvio! No entanto, depois de um certo tempo, algo espetacular acontecia! Os sólidos maiores permaneciam do mesmo tamanho, porém mais densos... Isso acontecia mesmo se o número de partículas pequenas aumentasse. Observei esse fenômeno durante anos e descobri que a natureza iônica das partículas pequenas combinava perfeitamente com a natureza iônica dos grande sólidos. O aumento na densidade mudava a natureza do sólido, além de diminuir a quantidade de partículas. Quem operava a reação?... A hidrodinâmica na vazão do líquido! Quanto mais forte, agitado, intenso fosse o líquido, maior seria a densidade, a natureza do sólido, independente da quantidade de partículas ali presente.
Depois percebi que isso acontecia em outros tanques. Ora, faz parte da natureza!
Por isso abra a torneira para encher seu tanque, aumente a pressão do líquido, não importa quão turvo ele se apresente. Com o tempo você sentirá que os grandes sólidos ficaram tão densos que repousarão no fundo do seu tanque.
Vocẽ compreenderá que a maturidade sólida depende de uma intensidade líquida.
As partículas, quase invísiveis, sempre estarão em nossas vidas, incomodando nossos olhos, engrossando o sangue de nossas veias e artérias, turvando o líquido do nosso tanque...
Paradoxalmente, quanto mais líquido, mais sólido e denso serão seus sentimentos, seus sendimentos.
Sentimental é bom! Melhor é tornar-se sedimental.
Trocar 2 por 1, trocar um "NT" por um "D"... Um "não ter" por um "doar"...
Sedimental é aquele que aumentou a densidade dos seus sentimentos mais belos e puros.
Quanto mais líquido, quanto mais perdão, alegria, esperança, gentileza, você distribuir, jorrar... mais sólido se tornarão o amor, a amizade, a sinceridade... não importando a quantidade de partículas ruins que lhe sejam postas.
Sedimente-se de coisas boas! Nunca feche sua torneira. As paredes do seu tanque agradecem.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

A cor de uma palavra


Depois de uma noite turbulenta e chuvosa, acordei com uma sensação agradável. Levantei-me e senti as juntas do meu corpo aplaudir minha disposição.

Quando saía do banheiro escutei pela TV que hoje seria um dia ensolarado. Preparei-me, tomei café, pus meus óculos de sol, peguei meu cachorro e saímos para passear. Adoro as caminhadas matinais na praça enfrente a minha casa... Um cheiro de terra molhada e mato úmido ainda estavam espalhados pelo ar.

Um cantarolar de pardais nas árvores daquela praça embalava meus primeiros passos.

Sem querer, acabei escutando a briguinha fútil de um casal que caminhava ali perto.

Ela discutia com ele a possibilidade de pintar o cabelo de ruivo mais uma vez.

E ele veementemente rebateu:

— Você em menos de três meses já pintou o cabelo de louro claro, verde papagaio, lilás e agora já quer pintar de novo?...

— Ora, eu estou no vermelho, será que você não vê?!...

Ressaltou ele indignado com a situação.

Eu, silencioso me perguntava: lilás?...

Ela, por sua vez, retrucou em tom irônico sobre o carro novo que ele tinha comprado.

— É incrível como um homem consegue gastar tanto dinheiro para comprar um carro cor de vinho... é careta demais, horrível aquela cor!... No entanto não quer pagar a tintura de um cabelo!...

E continuou:

— Para a camisa oficial do seu time de futebol você tem dinheiro! Diga-se de passagem, aquele verde limão é ridículo, não sei como alguém consegue vestir aquilo!?...

Eu e meu cachorro que testemunhava aquilo aproximamos daquele casal e eu os cumprimentei interrompendo aquela intriga:

— Bom dia pessoal! A TV noticiou que hoje seria um dia lindo, vocês concordam?... Já viram o céu, as nuvens, as plantas desta praça?...

Sem querer, acabei escutando a conversa de vocês, desculpem-me!...

— Azul, branco, verde, vinho, lilás!...

— Vocês poderiam me descrever como é o azul? O lilás? Como será descrever uma cor? Qual a sua beleza? O que é belo?...

— Herdei uma fortuna e daria tudo para ver o azul do céu, as nuvens, a cor do seu cabelo, a cor do seu carro, mas eu nasci cego...

O silêncio tomou conta daquele instante e o casal sem resposta se afastou emudecido. Só então percebi o valor da palavra para quem não pode dizê-la. O valor das minhas pernas que me conduziram até aquele local. O valor dos meus ouvidos por ter escutado aquela conversa. O valor de ter uma companhia do seu lado. Seja animal ou pessoa.

O valor do olfato em sentir o cheiro da terra molhada e a oportunidade que Deus me deu de estar ali vivo e consciente, com saúde para caminhar, sorrir e entender o seu propósito.

As cores para mim seriam importantes se eu as pudesse vê-las, contemplá-las, mas a minha fala naquele instante foi bem mais contundente que a limitação dos meus olhos.

Ali, eu pude ver com o coração a cor da minha fala.

A cor das minhas palavras.

terça-feira, 5 de julho de 2011



Poesia é nuvem… alimenta os olhos fitados ao céu;

quando cai, encobre a alma como um véu
e vai lambuzando a vida feito mel.

João Noilton Costa

Sentidos...



Senti hoje uma vontade imensa de sentir...
Sentir teu gosto cheirando minha nuca
Sentir teu cheiro tocando minha retina
Sentir teus olhos escutando meu sabor
Sentir tua pele vendo o meu silêncio
Sentir teus ouvidos deliciando meu odor
Sentir todo o sentido que tudo isso faz
Sentir teus sentidos misturados aos meus
Sentir minha mistura nos sentidos teus
Sentir toda tua direção em meu labirinto
Sentir tudo aquilo que hoje não sinto
Sentir na verdade que eu não sinto mais
Sentir a dita cuja?... Não!.. senti a culpa dita!
Senti somente a escrita das linhas que deixei atrás

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Uma lágrima de presente



Deitado em fios traçados por mãos exploradas, percebo a dor do dias, a solidão das telhas e a delicadeza da poeira repousando na madeira. Todas as palavras me são postas e nem um som sequer sai da minha boca. Apenas os vagos instantes felizes, simples flertes de infância, tentam me consolar. Ao levantar a cabeça em direção a janela o vento bate em minha cara lembrando dos projetos inacabados. O olhar para o nada constrói um sorriso de plástico em sonhos de pedras. Aquelas rodas já me levam a nenhum lugar... Estou aqui parado, esperando o óleo para lubrificar meu coração mecânico. A ambição me foi tirada por uma verdade intangível... perdi o desejo de desejar o que todos desejam. Uma tela de mentiras invade minha realidade e rouba minhas horas cansadas, corrompe minhas flácidas loucuras e sufoca meus mais sinceros vícios. Ela deitada em sua sensualidade, pronta para o desconforto laborioso dos favores, provoca o sabor instantâneo da libido para esconder o resultado do suor. E aquilo que até então era insólito, insípido, inodoro, incrédulo, invisível, silencioso, transformou-se numa pele de pimenta, uma linguagem de felinos e esquecimentos de brinquedos. Os fios de cabelo e de tecido se unem num penteado único grudados a suor. O ar se torna escasso e a garganta seca, implora água... E tudo passa, tudo termina, tudo é tão rápido e se vai, se esvai... É tão tarde e precisa ir. Ali, fica sempre repousando um cérebro dominado pelos desejos da cabeça e a companhia eterna de uma lágrima enternecida.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

As lembranças do esquecimento


Fui embora de mim mesmo carregando uma pequena mala de memórias.
Antes de sair reguei o meu jardim de esperanças com lágrimas e pedaços de saudades.

Eu tinha muitas coisas para trazer. Mas propositalmente as esqueci.

Esqueci daqueles amigos falsos, ladrões que roubaram minhas horas.

Esqueci os traços de generosidade habitados em meus favores.

Esqueci que o amanhã será um outro dia. Não existe amanhã.
Esqueci que o Deus é um só para todos nós. O meu é só meu.
Esqueci o tempo perdido correndo contra o tempo. Tempo não é ouro.
Esqueci as juras de amor, as viagens, os sonhos. A fantasia é sua.
Esqueci a confiança, a fidelidade. A verdade está por trás da tua verdade.
Esqueci o para sempre, onze anos, oito anos, dois anos, 1 minuto...
Esqueci o você que havia em nós. Trouxe apenas aquele que havia em mim.
Esqueci o teu sorriso, teu corpo, tua cama, teu cabelo, teus olhos.
Esqueci que eu comprava esse amor que não tinha preço.
Esqueci que eu te amava e lembrei que eu sempre esqueço.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Partida



Tudo parte
Tudo parte
Sorriso partindo
Partindo meu peito
Respeito partido
Pra ti não foi feito
Desfeito essa dor
Adora o ardor
Ar, dor, ora...
Não tem mais jeito.