quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

A filha que não tivemos

Se ontem, acontecido tivesse
Seria um tanto quanto burrice
Mas por outro lado seria doce
Ela traria a sua meiguice
E se o nome da escolha fosse
Delicado, suave e fácil
Se chamaria Clarisce

Noya

1 comentário:

  1. Um chocolate quente e solidão. Era tudo o que ela tinha naquela noite. E tudo o que não precisava ter. Porque preferia um vinho e um carinho.
    Preferia mãos que lhe roçassem a cabeça e lábios que a beijassem de leve, tão leve como uma impressão, uma suspeita ou uma desconfiança...
    Já era tarde para tentar qualquer coisa. Já havia esquecido tudo o que haviam vivido de bom, e não adiantava mais se cobrar por nada. Não amava mais. Não amava mais. Não amava mais. O que podia fazer?
    -Você não me amou?
    -Amei. Mas não amo mais. E eu não quis assim.
    Amor não se pede, não se cobra, não se exige. Amor a gente não cria dentro do peito. E como não se define seu surgimento, não é possível controlar seu fim. Ele próprio nasce, se desenvolve e morre. É um vírus no coração, ela pensava, um vírus que faz doer, chorar e deixa cicatrizes feias, que se quer esconder.
    Amou, sim. Mas já não amava, e o que é que ela podia fazer?
    Só queria um carinho, uma mão leve, alguém para chamar de meu amor. Queria sentir de novo aquele sentimento de que o mundo termina ali, no toque das mãos da pessoa amada. E de que não se precisaria mesmo ir além, mesmo que o mundo fosse.
    E agora o amor se fazia das sobras de saudade. Mas não uma saudade que sufocava. Uma saudade de alguma coisa que nem fazia mais falta. Ela dizia saudade para que parecesse bonito. Para que ficasse daquela história algo a que pudesse chamar de belo.
    Tomou o resto do chocolate e dormiu. Com um porta-retrato sem foto na cabeceira da cama.

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